Há oito anos lancei um site sobre maternidade que se chamava “Cara de Mãe” (quem lembra 1?). Foi contemporâneo ao nascimento de um movimento potente, que na época ficou conhecido como ‘blogosfera materna’. Tinha um montão de mães-blogueiras, de todos os tipos, gostos e saberes, compartilhando descobertas desse momento da vida, transformações do corpo, lutas pelo direito a um parto respeitoso – prévias de uma pequena grande revolução que se anunciava e aconteceu. Vim, vi e venci.
Montei uma espécie de portal, convidei pessoas bacanas para colaborarem, escrevi bastante, dei até entrevista para TV (quem lembra 2?). Preparei toda a estrutura com amor. Logo, site, tinha até cartão. Mas na verdade EU não estava pronta. Só fui me dar conta disso muito tempo depois. Acho que vivia ainda bastante aprisionada, numa espécie de patrulha interior. Não me achava boa suficiente, tinha vergonha de errar, medo de botar a cara no vento. Eu me julgava demais, me criticava e levava, por assim dizer, uma vida bem ausente de mim.
Ainda tenho medo (oh, se tenho!) e sinto muita vergonha, mas talvez a grande diferença seja que hoje tenho um pouco mais de consciência disso (e aqui estendo meus agradecimentos à musa Brené Brown pela tradução desses sentimentos, pelos tapas na cara, ainda que gentis, e pela apresentação da potência da vulnerabilidade).
Naquela época, atribui o fim do projeto à minha necessidade de privacidade. Não queria expor minha vida pessoal. Pensando bem, acho que eu não queria era olhar muito para dentro. Havia tantas incongruências ali, tanta poeira debaixo do tapete. E tinha uma ferida muito recente e aberta. O site foi para o ar um mês depois da morte da minha mãe. Sei agora que esse é um tipo de ferida que na verdade nunca vai fechar, mas que parou de sangrar. “Sempre não é todo dia” (quem lembra 3?).
Não deu naquele momento. E tudo bem. É bom me dar conta disso agora, decantar, abraçar aquela mulher – cheia de certezas e pouca coragem – e dizer: sempre é tempo, Dani!
Sempre é tempo de deixar as palavras atravessarem o peito, transbordarem pelos dedos, na tela, no papel. É tempo de me despir e de gostar mais de como me percebo hoje – bendita arte de envelhecer. É tempo de ser senhora bonita – livre adaptação ao Caetano (mimdeixa!).
É tempo de ventar, de nutrir o desejo de aterrar para ascender. É tempo chamar para conversar, para pensar no sentido da vida, nos desafios da caminhada, no prazer dos encontros, no Novo Mundo. É tempo de tecer os fios das palavras e bordá-las num pano afetivo de aguardar confetes.
Quer vir comigo? 27 de fevereiro de 2020