Quando ela chegou, nada ficou no lugar. Corpo, pulso, caminhar. Energia, olhar, intenção. Tudo o que era de dentro foi despejado. Saí da claridade e entrei num quarto escuro, que parecia só breu.
Tropecei nas caixas e nos guardados inúteis. Pó, poeira e coisas sem sentido. Sentir, sem rumo. Misturada à ventania, fui me carregando ainda mais e mais pra dentro.
Então, o interior acendeu. Os olhos se dessensibilizaram. Um processo avassalador, inadiável e necessário. Uma tempestade, uma febre interior. Passou? Tudo passa.
Mais um desembarque. Nova fenda. Mais profunda, menos óbvia. Mais seca, sem tempo pro luto. Um reafirmar de dores, um baralho marcado. Favas contadas. Eu já sabia. Passou de novo? Como tudo.
Abri algumas gavetas. Esvaziei-as. Joguei tanta coisa fora. Um reflexo difuso e incompatível me perseguia no espelho, cismando a me olhar. Encontrei a nostalgia. Uma saudade de mim. Um revival em looping.
Ser outra e absolutamente a mesma. Livre e só. Nua. Vazia, sem dor. Sou aquela, e sempre fui, mas agora como outra. Nova e velha. Louca para mudar e me perder nesse avesso.
20 de julho de 2018