Estou trancada no banheiro. Tomei café, escrevi minhas páginas matinais e, em seguida, tive um papo cabeça sobre criação de filhos com meu companheiro. Separei duas brigas das crianças. Cortei mamão e servi com granola, mel e chia para uma delas. A outra está chateada, porque “nessa casa só tem banana, mamão e melão”. Tive uma DR comigo mesma sobre privilégios e sobre como ensinar gratidão aos filhos. Dicas? Cheguei ao banheiro, tranquei a porta. Ufa! “Meu momento”. Número 1, número 2, esvaziar o coletor. Vou reservar meu sangue para plantar a minha Lua – outro dia eu explico. Estou muito conectada com o sagrado feminino. Uau! Assisto um IGTv compartilhado por uma amiga. É com uma atriz lendo a última crônica do Gregório Duvivier sobre ócio criativo. Começo a relaxar. Um suspiro, um sorriso. Caramba, uma risadinha. Esqueci do coronavírus, e já faz 2 minutos e dezessete, dezoito segundos. Toc, toc, toc! Minha filha mais nova não consegue lidar com o fato de, eventualmente, eu trancar uma porta. Ela pergunta: — Mãe, você sabe o que é uma ‘zumbelha’? Parei de ver o vídeo e respondi: — Não, filha. O que é? — É um tipo de abelha zumbi que usa o mel para transformar as crianças em abelhas. Cuidado, viu? Ri alto. — Ah, tá bom, filha, vou tomar cuidado. Penso que tenho meu próprio “Gregório Duvivier” em casa. Enquanto registro isso aqui no bloco de notas do celular, já bateram exatamente mais sete vezes nessa mesma porta – todos os moradores da residência precisavam falar algo muito importante, que não poderia esperar. Travei todas as atividades em andamento. Sequer terminei o vídeo intelectual/divertido. Tenho, ao menos, a crônica do dia. Escrita durante tentativa de isolamento, no isolamento do banheiro, em isolamento social contra vírus e abelhas zumbis. A mais perfeita tradução da produtividade dessa quarentena. #cronicadodia #palavras #aartesalva
Escrito em 17/04/2020